Diante de uma conjuntura favorável, especialistas apontam caminhos para o Mercosul se consolidar cada vez mais no mercado global de carnes

Temos uma situação muito interessante em 2025: o estoque global de gado caminha para uma escassez estrutural de apenas 607 milhões de cabeças, o menor volume da série histórica, iniciada em 1968.

Apresentando esse cenário-base, João Otávio Figueiredo, Líder de Pesquisa da DATAGRO Pecuária, deu início às discussões do terceiro painel do Global Agribusiness Fórum, que acontece nesta 5ª feira, em Punta del Este, no Uruguai.

Esse cenário, continua Figueiredo, é causado pela crise que se tem na América do Norte, onde os estoques de gado se encontram no menor nível em mais de 70 anos. Das 607 milhões de cabeças projetadas para os estoques globais neste ano, 260 milhões estão na América do Sul – sendo 182 milhões no Brasil, 53 milhões na Argentina, 13 milhões no Paraguai e 12 milhões no Uruguai – e 114 milhões na América do Norte.

“Isso abre muitas oportunidades. Não só para o Mercosul estar enviando mais carnes para os Estados Unidos, mas também para o México, o Canadá, e outros destinos que normalmente os EUA ocupavam”, aponta Figueiredo.

Para 2025, a projeção da DATAGRO Pecuária é de um déficit de quase 400 mil toneladas no consumo global de carne; e um saldo negativo de 121 mil toneladas no trade flow entre os países.

Atualmente, o Brasil exporta cerca de 30% de toda carne produzida no país, percentual bem abaixo dos 80% do Uruguai e dos 70% do Paraguai. A Argentina, por sua vez, está exportando 27% de sua produção, nível próximo ao do Brasil, porém, com um diferencial: o país vizinho possui maior dependência da China. Enquanto a Argentina destina 75% das suas exportações para o país asiático, o Brasil manda 52%.

Diante desse cenário favorável ao Mercosul, especialistas convidados apontaram alguns caminhos para a consolidação do bloco no mercado global de carne bovina.

Álvaro Pereira Ramela, Gerente de Acesso a Mercados do Instituto Nacional de Carnes do Uruguai, pregou pela necessidade de se manter um equilíbrio, em alto nível, entre custos de produção, produtividade e preços. Para isso, sugere Ramela, os governos devem sempre buscar novas habilitações sanitárias, promover internacionalmente a marca da pecuária local e investir em rastreabilidade e sustentabilidade.

“Sabemos que a qualidade média da carne uruguaia e argentina historicamente sempre foram superiores a do Brasil, mas o Brasil tem tido um grande ganho de eficiência nos últimos anos, investindo em rastreabilidade e sustentabilidade”, pontuou João Figueiredo.

Outro ponto de atenção, e que deve ser revertido, está relacionado às elevadas taxas cobradas pelos países para importar carnes do Mercosul. Segundo Ramela, atualmente, o bloco enfrenta taxas mais altas que a Austrália para exportar carnes aos principais compradores mundiais.

Do lado, da indústria, Marcelo Secco Arias, COO da Marfrig Conosur, pregou pela necessidade de trabalhar em cima de processos de certificações, o que ajuda a abrir mercado e agregar valor à matéria-prima.

Para o futuro próximo, alertou o Líder de Pesquisa da DATAGRO Pecuária, o Brasil e Argentina estão começando a entrar no processo de reconstrução de estoques, o que deve mexer com a oferta global de gado. No Uruguai, todavia, a situação é mais equilibrada.

 

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